·
O
quadro humano e econômico do Nordeste apresenta grandes diferenças, sobretudo
quando comparamos as características do litoral com as do interior da região. O
interior, dominado pelo clima semiárido, é pouco povoado e bem menos
desenvolvido economicamente, ao contrário da faixa litorânea, que concentra
grande parte da população e os maiores centros urbanos e industriais da região.
·
Em
relação ao quadro natural, esses contrastes podem ser observados nos diferentes
tipos de relevo, clima e vegetação existentes na região. O clima semiárido
predominante no interior da região deu origem à Caatinga, ecossistema formado
por uma vegetação mais resistente e adaptada ao clima bastante quente e seco. O
clima quente e úmido que predomina ao longo da faixa litorânea favoreceu o
desenvolvimento da floresta Tropical, que, originalmente, se estendia desde o
Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul.
·
Devido
a essa diversidade do quadro natural, podemos dividir o Nordeste em quatro
sub-regiões: a Zona da Mata, o Agreste, o Sertão e o Meio-Norte.
As
sub-regiões:
·
Zona da Mata: Região de clima quente e chuvoso, originalmente coberta pela floresta
Tropical, nesta porção litorânea também chamada de Mata Atlântica (daí a
denominação Zona da Mata). É a região mais povoada e industrializada do
Nordeste, com importantes centros urbanos e indústrias, como Salvador e Recife,
e grandes latifúndios monocultores de cana-de-açúcar, a base da economia
colonial e presente na paisagem até os dias atuais. Essas áreas antes eram
antes ocupadas pela floresta Tropical, mas a vegetação acabou por ser
substituída. Lugar de onde todo o pau-brasil já havia sido retirado. A vegetação
ocupava a borda leste das serras e chapadas que margeiam a faixa litorânea.
·
Outro
fator que contribui para o desaparecimento da Mata Atlântica nessa sub–região é
que nela foram estabelecidos povoamentos que se transformaram em importantes
cidades: as capitais dos estados do Rio grande do Norte, da Paraíba, de
Pernambuco, de Alagoas, de Sergipe e da Bahia, o que a tornou a mais populosa
das sub-regiões.
·
Além
de ser a sub-região mais industrializada e desenvolvida economicamente,
apresenta muitos problemas sociais, tais como condições precárias de muitas
moradias nos centros urbanos, elevado índice de desemprego e salários muito
baixos, principalmente nas atividades agropecuárias.
·
Agreste: Região de transição entre a Zona da Mata e o Sertão, apresentando
trechos mais secos, onde predomina a Caatinga. Enquanto na Zona da Mata
prevalecem os latifúndios monocultores, no Agreste predominam os minifúndios
policultores com destaque para à produção agrícola (feijão, mandioca, milho,
café e algodão).
·
Também
se desenvolveram a pecuária leiteira
e as indústrias de derivados do leite e de bens de consumo, principalmente
doces, sucos geralmente desenvolvidas em pequenas e médias propriedades. Também
as indústrias de móveis, calçados e têxteis.
·
O
comércio é outra atividade muito importante do Agreste. Nesse setor,
destacam-se as feiras livres das cidades de Campina Grande, no estado da
Paraíba; Feira de Santana e Vitória da Conquista, na Bahia; Caruaru e
Garanhuns, no estado de Pernambuco.
·
Muitos
municípios do Agreste cresceram em decorrência da produção algodoeira, que se
expandiu nessa sub-região, a partir do século XIX, e impulsionou indústrias
têxteis, já no século XX.
·
As
inovações tecnológicas incorporadas à produção, nas últimas décadas, resgataram
a importância do algodão no Agreste, onde essa cultura tinha praticamente
desaparecido em consequência de uma doença devastadora, conhecida como “bicudo
algodoeiro”.
·
Campina
Grande, na Paraíba, convive com a cultura do algodão desde o início do século
XX. Hoje, a cidade tem um polo têxtil
consolidado e destaca-se no
cenário nacional não só pela quantidade
da produção, mas por um diferencial tecnológico: o algodão colorido,
desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e
exportado para países da América Latina e da Europa.
·
Resultado
de doze anos de pesquisa – desenvolveu-se a partir de uma variedade nativa da
região, conhecida como mocó –, o algodão em tons de marrom ajudou a fortalecer
a cidade como polo têxtil e levou as fábricas da região a se organizarem para
conquistar o mercado externo.
·
Sertão: é a maior sub-região do Nordeste, o sertão nordestino também é conhecido
como Nordeste seco. Dominada pelo clima
semiárido, quente e seco, com curtos períodos chuvosos que duram de dois a três
meses do ano. A Caatinga é a vegetação típica do Sertão, formada por plantas
resistentes e adaptadas à falta de água, como os cactos. No período das
estiagens, os leitos de muitos rios que correm no Sertão secam completamente
(são os chamados rios temporários).
·
No
interior do Sertão, em algumas áreas de vertentes de serra ou em zonas de
transbordamento de rios, há terrenos planos encharcados, originados a partir de
rios permanentes ou intermitentes. São os chamados brejos, áreas para onde são
carregados pela enxurrada, na época chuvosa, os materiais decompostos.
Depositando-se no solo, esses materiais formam uma camada mais espessa e úmida,
propícia à agricultura.
·
A
pecuária extensiva e a agricultura comercial de frutas, café, algodão, soja,
milho, feijão, arroz e mandioca são as principais atividades do Sertão. A
maioria da população rural dessa sub-região vive da agricultura e da pecuária
de subsistência.
·
Meio-Norte: é a região que abrange o estado do Maranhão e a maior parte do estado do
Piauí. Região de transição entre o
Sertão, de clima semiárido, e a Amazônia, de clima equatorial quente e úmido.
Por isso, a região apresenta vegetação bastante variada, com a presença da
Caatinga, no Piauí, do Cerrado, da Mata dos Cocais e também da floresta
Amazônica, no Maranhão.
·
A
Mata dos Cocais, explorada pelas atividades de extrativismo vegetal. Da
carnaúba, extraem-se óleos e ceras para fabricação de velas e lubrificantes. Da
palmeira de babaçu, é possível extrair o palmito e o coco para a produção de
óleos usados pelas indústrias, como a de cosméticos.
·
A
maior parte da mão de obra envolvida na extração do coco de babaçu é de
mulheres, as chamadas quebradeiras, que trabalham em condições precárias. Muitas vezes elas precisam pagar para entrar
nas fazendas onde há as palmeiras, que são particulares, e onde geralmente
também se pratica a pecuária. Uma das soluções encontradas por essas
trabalhadoras para enfrentar as dificuldades foi organizarem-se em
cooperativas.
·
A
economia do Meio-Norte tem se baseado também na criação de gado e na cultura de
algodão e de arroz.
·
Nas
últimas décadas, no Meio-Norte, vem ocorrendo à expansão da cultura da soja,
destinada à exportação. Isso aumentou ainda mais a concentração da propriedade
rural nas mãos de poucos e intensificou os conflitos pela terra. Apesar dos
problemas criados a cultura mecanizada da soja tornou-se uma das mais
importantes atividades econômicas dessa sub-região.
·
A
soja produzida é exportada pelo Porto de Itaqui, em são Luís, capital do
maranhão e principal cidade do Meio-Norte, onde se concentram as atividades de
comércio e serviços. Além da soja, pelo Porto do Itaqui também se exporta boa
parte dos minérios extraídos da Serra dos Carajás, no Pará, que ali chega pela
estrada de ferro Carajás – Itaqui.
O
fenômeno da seca no Sertão
·
O
clima semiárido do Sertão é o mais seco do país, com pluviosidade média anual
de 1000 milímetros (mm). Em 50% do Sertão, no entanto, os índices variam entre
500 mm e 750 mm. Porém, em certas áreas dessa sub-região, a quantidade de
chuvas durante o ano não chega a 300 mm.
·
Além
de poucas, as chuvas no Sertão são mal distribuídas ao longo do ano. Em geral,
as épocas mais chuvosas vão de dezembro a abril, sendo que, em determinadas
áreas, os períodos de estiagem são mais prolongados e podem durar até 11 meses
sem chover uma única vez.
·
Quando
as chuvas não caem na época prevista e o período de estiagem se prolonga de um
ano para o outro acontece a seca. A ocorrência das secas está associada, entre
outros motivos, às mudanças que ocorrem na circulação atmosférica provocada
pelo aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico, fenômeno conhecido por
El Niño.
·
Com
o El Niño, uma zona de alta pressão atmosférica se estabelece sobre o Sertão
nordestino, impedindo chegada de massas de ar úmidas, que vem vêm da Amazônia e
do oceano Atlântico, e das frentes frias vindas do sul do país, que normalmente
levariam chuvas ao Sertão.
·
Observação: no Sertão nordestino durante o El Niño, o que aumentam são as
estiagens.
·
As
características do relevo nordestino também contribuem, em grande parte, para a
escassez de chuvas no Sertão. As altitudes mais elevadas ao longo da faixa
litorânea, principalmente as encostas íngremes do planalto da Borborema, que se
estende desde o Rio Grande do Norte até Alagoas, funcionam como uma barreira
aos ventos úmidos que sopram do oceano.
·
Ao
se deparar com esse relevo, os ventos carregados de umidade se elevam, formando
as nuvens que dão origem a chuvas intensas e frequentes. Assim, quando chegam
ao interior do continente, os ventos já perderam a umidade e estão muito secos,
o que dificulta a formação de nuvens e a ocorrência de chuvas.
O
lugar mais seco do Brasil
·
O
município de cabeceiras, com apenas 4907 habitantes, localizado no interior do
estado da Paraíba, a 184 quilômetros da capital João Pessoa, pode ser
considerado o mais seco do país. Nesse município, chove em média apenas 331 mm
durante o ano interior, o menor índice pluviométrico do país. Esse índice
equivale à mesma quantidade de chuvas que ocorre em um único mês em certas
regiões da Amazônia.
Seca
e movimento populacional do Nordeste
·
Além
das mudanças ocasionadas na paisagem, a seca também provoca consequências
diretas sobre a população que vive no Sertão. Durante as secas mais
prolongadas, a falta de água prejudica os camponeses, sobretudo os pequenos
proprietários rurais, que perdem suas lavouras de subsistência e os pequenos
rebanhos. Sem condições de sobreviver com o sustento da terra, muitas famílias
abandonam o campo e migram para outras áreas fugindo das secas.
·
Entre
as décadas de 1950 e 1980, os migrantes nordestinos dirigiram-se principalmente
para o Sudeste, sobretudo para o estado de são Paulo, em busca de trabalho nas
fábricas ou na construção civil.
·
Outras
correntes migratórias também ocorreram em direção ao Centro-Oeste do país,
durante a construção de Brasília, e para a Amazônia, nas novas áreas de
fronteira agrícola.
·
Mais
recentemente, no entanto, grande parte dos trabalhadores que deixam o Sertão
tem migrado para as grandes cidades da própria região Nordeste, como Salvador,
Recife e Fortaleza, entre outras que estão passando por um período de
crescimento econômico. Essa migração tem causado sérios problemas, como inchaço
populacional e aumento da favelização.
·
A
migração em direção aos grandes centros urbanos contribui para o crescimento
desordenado das periferias, como ocorre na cidade do Recife, capital do estado
de Pernambuco.
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