quarta-feira, 31 de outubro de 2012

As sub-regiões do Nordeste

                           
     O quadro humano e econômico do Nordeste apresenta grandes diferenças, sobretudo quando comparamos as características do litoral com as do interior da região. O interior, dominado pelo clima semiárido, é pouco povoado e bem menos desenvolvido economicamente, ao contrário da faixa litorânea, que concentra grande parte da população e os maiores centros urbanos e industriais da região.
   
        Em relação ao quadro natural, esses contrastes podem ser observados nos diferentes tipos de relevo, clima e vegetação existentes na região. O clima semiárido predominante no interior da região deu origem à Caatinga, ecossistema formado por uma vegetação mais resistente e adaptada ao clima bastante quente e seco. O clima quente e úmido que predomina ao longo da faixa litorânea favoreceu o desenvolvimento da floresta Tropical, que, originalmente, se estendia desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul.
       Devido a essa diversidade do quadro natural, podemos dividir o Nordeste em quatro sub-regiões: a Zona da Mata, o Agreste, o Sertão e o Meio-Norte.
 
    As sub-regiões:

Ø Zona da Mata: Região de clima quente e chuvoso, originalmente coberta pela floresta Tropical, nesta porção litorânea também chamada de Mata Atlântica (daí a denominação Zona da Mata). É a região mais povoada e industrializada do Nordeste, com importantes centros urbanos e indústrias, como Salvador e Recife, e grandes latifúndios monocultores de cana-de-açúcar, a base da economia colonial e presente na paisagem até os dias atuais. Essas áreas antes eram antes ocupadas pela floresta Tropical, mas a vegetação acabou por ser substituída. Lugar de onde todo o pau-brasil já havia sido retirado. A vegetação ocupava a borda leste das serras e chapadas que margeiam a faixa litorânea.
        Outro fator que contribui para o desaparecimento da Mata Atlântica nessa sub–região é que nela foram estabelecidos povoamentos que se transformaram em importantes cidades: as capitais dos estados do Rio grande do Norte, da paraíba, de Pernambuco, de Alagoas, de Sergipe e da Bahia, o que a tornou a mais populosa das sub-regiões.
         Além de ser a sub-região mais industrializada e desenvolvida economicamente, apresenta muitos problemas sociais, tais como condições precárias de muitas moradias nos centros urbanos, elevado índice de desemprego e salários muito baixos, principalmente nas atividades agropecuárias.

Ø Agreste: Região de transição entre a Zona da Mata e o Sertão, apresentando trechos mais secos, onde predomina a Caatinga. Enquanto na Zona da Mata prevalecem os latifúndios monocultores, no Agreste predominam os minifúndios policultores com destaque para à produção agrícola (feijão, mandioca, milho, café e algodão).
       Também se desenvolveram a pecuária leiteira e as indústrias de derivados do leite e de bens de consumo, principalmente doces, sucos geralmente desenvolvidas em pequenas e médias propriedades. Também as indústrias de móveis, calçados e têxteis.
     O comércio é outra atividade muito importante do Agreste. Nesse setor, destacam-se as feiras livres das cidades de Campina Grande, no estado da Paraíba; Feira de Santana e Vitória da Conquista, na Bahia; Caruaru e Garanhuns, no estado de Pernambuco.
     Muitos municípios do Agreste cresceram em decorrência da produção algodoeira, que se expandiu nessa sub-região, a partir do século XIX, e impulsionou indústrias têxteis, já no século XX.
       As inovações tecnológicas incorporadas à produção, nas últimas décadas, resgataram a importância do algodão no Agreste, onde essa cultura tinha praticamente desaparecido em consequência de uma doença devastadora, conhecida como “bicudo algodoeiro”.  
         Campina Grande, na Paraíba, convive com a cultura do algodão desde o início do século XX. Hoje, a cidade tem um polo têxtil  consolidado  e destaca-se no cenário nacional não só  pela quantidade da produção, mas por um diferencial tecnológico: o algodão colorido, desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e exportado para países da América Latina e da Europa.
     Resultado de doze anos de pesquisa – desenvolveu-se a partir de uma variedade nativa da região, conhecida como mocó –, o algodão em tons de marrom ajudou a fortalecer a cidade como polo têxtil e levou as fábricas da região a se organizarem para conquistar o mercado externo.

Ø Sertão: é a maior sub-região do Nordeste, o sertão nordestino também é conhecido como Nordeste seco.  Dominada pelo clima semiárido, quente e seco, com curtos períodos chuvosos que duram de dois a três meses do ano. A Caatinga é a vegetação típica do Sertão, formada por plantas resistentes e adaptadas à falta de água, como os cactos. No período das estiagens, os leitos de muitos rios que correm no Sertão secam completamente (são os chamados rios temporários).
        No interior do Sertão, em algumas áreas de vertentes de serra ou em zonas de transbordamento de rios, há terrenos planos encharcados, originados a partir de rios permanentes ou intermitentes. São os chamados brejos, áreas para onde são carregados pela enxurrada, na época chuvosa, os materiais decompostos. Depositando-se no solo, esses materiais formam uma camada mais espessa e úmida, propícia à agricultura.
        A pecuária extensiva e a agricultura comercial de frutas, café, algodão, soja, milho, feijão, arroz e mandioca são as principais atividades do Sertão. A maioria da população rural dessa sub-região vive da agricultura e da pecuária de subsistência.

Ø Meio-Norte: é a região que abrange o estado do Maranhão e a maior parte do estado do Piauí. Região de transição entre o Sertão, de clima semiárido, e a Amazônia, de clima equatorial quente e úmido. Por isso, a região apresenta vegetação bastante variada, com a presença da Caatinga, no Piauí, do Cerrado, da Mata dos Cocais e também da floresta Amazônica, no Maranhão.
       A Mata dos Cocais, explorada pelas atividades de extrativismo vegetal. Da carnaúba, extraem-se óleos e ceras para fabricação de velas e lubrificantes. Da palmeira de babaçu, é possível extrair o palmito e o coco para a produção de óleos usados pelas indústrias, como a de cosméticos.
     A maior parte da mão de obra envolvida na extração do coco de babaçu é de mulheres, as chamadas quebradeiras, que trabalham em condições precárias.  Muitas vezes elas precisam pagar para entrar nas fazendas onde há as palmeiras, que são particulares, e onde geralmente também se pratica a pecuária. Uma das soluções encontradas por essas trabalhadoras para enfrentar as dificuldades foi organizarem-se em cooperativas.
        A economia do Meio-Norte tem se baseado também na criação de gado e na cultura de algodão e de arroz.
        Nas últimas décadas, no Meio-Norte, vem ocorrendo à expansão da cultura da soja, destinada à exportação. Isso aumentou ainda mais a concentração da propriedade rural nas mãos de poucos e intensificou os conflitos pela terra. Apesar dos problemas criados a cultura mecanizada da soja tornou-se uma das mais importantes atividades econômicas dessa sub-região.
        A soja produzida é exportada pelo Porto de Itaqui, em são Luís, capital do maranhão e principal cidade do Meio-Norte, onde se concentram as atividades de comércio e serviços. Além da soja, pelo Porto do Itaqui também se exporta boa parte dos minérios extraídos da Serra dos Carajás, no Pará, que ali chega pela estrada de ferro Carajás – Itaqui.     

    O fenômeno da seca no Sertão
       O clima semiárido do Sertão é o mais seco do país, com pluviosidade média anual de 1000 milímetros (mm). Em 50% do Sertão, no entanto, os índices variam entre 500 (mm) e 750 (mm). Porém, em certas áreas dessa sub-região, a quantidade de chuvas durante o ano não chega a 300 (mm).
        Além de poucas, as chuvas no Sertão são mal distribuídas ao longo do ano. Em geral, as épocas mais chuvosas vão de dezembro a abril, sendo que, em determinadas áreas, os períodos de estiagem são mais prolongados e podem durar até 11 meses sem chover uma única vez.
        Quando as chuvas não caem na época prevista e o período de estiagem se prolonga de um ano para o outro acontece a seca. A ocorrência das secas está associada, entre outros motivos, às mudanças que ocorrem na circulação atmosférica provocada pelo aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico, fenômeno conhecido por El Niño.
       Com o El Niño, uma zona de alta pressão atmosférica se estabelece sobre o Sertão nordestino, impedindo chegada de massas de ar úmidas, que vem vêm da Amazônia e do oceano Atlântico, e das frentes frias vindas do sul do país, que normalmente levariam chuvas ao Sertão.  
        Observação: no Sertão nordestino durante o El Niño, o que aumentam são as estiagens.
        As características do relevo nordestino também contribuem, em grande parte, para a escassez de chuvas no Sertão. As altitudes mais elevadas ao longo da faixa litorânea, principalmente as encostas íngremes do planalto da Borborema, que se estende desde o Rio Grande do Norte até Alagoas, funcionam como uma barreira aos ventos úmidos que sopram do oceano.
        Ao se deparar com esse relevo, os ventos carregados de umidade se elevam, formando as nuvens que dão origem a chuvas intensas e frequentes. Assim, quando chegam ao interior do continente, os ventos já perderam a umidade e estão muito secos, o que dificulta a formação de nuvens e a ocorrência de chuvas.

    O lugar mais seco do Brasil
       O município de cabeceiras, com apenas 4907 habitantes, localizado no interior do estado da Paraíba, a 184 quilômetros da capital João Pessoa, pode ser considerado o mais seco do país. Nesse município, chove em média apenas 331 mm durante o ano interior, o menor índice pluviométrico do país. Esse índice equivale à mesma quantidade de chuvas que ocorre em um único mês em certas regiões da Amazônia.

    Seca e movimento populacional do Nordeste
       Além das mudanças ocasionadas na paisagem, a seca também provoca consequências diretas sobre a população que vive no Sertão. Durante as secas mais prolongadas, a falta de água prejudica os camponeses, sobretudo os pequenos proprietários rurais, que perdem suas lavouras de subsistência e os pequenos rebanhos. Sem condições de sobreviver com o sustento da terra, muitas famílias abandonam o campo e migram para outras áreas fugindo das secas.
       Entre as décadas de 1950 e 1980, os migrantes nordestinos dirigiram-se principalmente para o Sudeste, sobretudo para o estado de são Paulo, em busca de trabalho nas fábricas ou na construção civil.
        Outras correntes migratórias também ocorreram em direção ao Centro-Oeste do país, durante a construção de Brasília, e para a Amazônia, nas novas áreas de fronteira agrícola.
        Mais recentemente no entanto, grande parte dos trabalhadores que deixam o Sertão tem migrado para as grandes cidades da própria região Nordeste, como Salvador, Recife e Fortaleza, entre outras que estão passando por um período de crescimento econômico. Essa migração tem causado sérios problemas, como inchaço populacional e aumento da favelização.
     A migração em direção aos grandes centros urbanos contribui para o crescimento desordenado das periferias, como ocorre na cidade do Recife, capital do estado de Pernambuco.

Fonte: Livro, Projeto Radix. Ed. Scipione. Imagens: Google.